POVOADO FLECHEIRAS: panorama histórico-social e personalidades ilustres
- Por Adenildo Bezerra
- 18 de dez. de 2018
- 5 min de leitura

O povoado Flecheiras fica localizado ao norte do município de Arari, na região dos povoados Bomfim, Curral da Igreja e Juncal. As coordenadas do povoado são: 3º22’49”LS e 44º46’28”LO. A altitude do lugar varia de 7m a 13m em relação ao nível do mar. As terras pertencentes ao povoado são cercadas de muitas histórias, isso porque foi onde morou dois ilustres ararienses: Antônio Anísio Garcia e José Joaquim Seguins de Oliveira, o afamado Barão de Itapary.
O primeiro, nascido e criado no povoado, foi um grande mandatário arariense, foi prefeito do município por sete vezes. Durante vários anos obteve grande poder na política local. Seguramente, Garcia foi o maior líder político que Arari já tivera, com trinta anos de poder e hegemonia política. O segundo, era um rico proprietário de terras, fazendas, engenhos e escravos, no século XIX. Outro político nascido em Flecheiras, só que mais recente, digamos assim, foi Raimundo Gabriel Pinto Rego, que foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Arari.
Em Flecheiras, podemos encontrar, ainda, as ruínas do Engenho Babilônia que pertenceu ao Barão de Itapary. Nesse engenho, segundo contam alguns historiadores maranhenses, fabricava-se, no século XIX e início do século XX, o melhor açúcar do Maranhão. Existem ainda o poço e a encanação de ferro que levava água para o engenho onde era fabricado o açúcar. Apenas isso ainda resta. Não é mais possível encontrarmos as ruínas do engenho ou da casa da fazenda Nova Austrália, onde o Barão de Itapary morou por alguns anos, antes de mudar-se para a Fazenda Santa Isabel, no município de Matinha. Na minha opinião pelo menos as ruínas do engenho que ainda existem deveriam ser tombadas pelo município de Arari, afim de preservarmos esse importante patrimônio histórico.
Então, como no século XIX e meados do século XX, A produção de cana de açúcar e seus derivados era muito forte na localidade, Flecheira era conhecido à época como “Fazenda Nova Austrália”. É possível encontrarmos nos registros de casamentos e batizados dos tempos passados o nome Fazenda Nova Austrália, e não povoado Flecheiras. A economia do lugar, portanto, girava em torno dessa fazenda, por isso a sua forte influência.
Hoje, a economia das Flecheiras gira em torno da pecuária extensiva, da agricultura de subsistência, de benefício do INSS e do Bolsa Família, além de outros fomentos financeiros que vêm de fora, trabalhadores que saem para trabalhar em outras regiões do país e mandam dinheiro para os seus familiares. No aspecto social, os moradores do povoado, na sua grande maioria, vivem em boas condições de moradia e sustento.
O MANDATÁRIO ANTÔNIO ANÍSIO GARCIA
Antônio Anísio Fernandes Garcia nasceu em 20 de janeiro de 1885, no povoado Flecheiras. Seus progenitores eram Joaõ Inácio Garcia e Maria Filomena Fernandes. Segundo ERICEIRA (2012), foi batizado na Igreja Matriz de Arari em 18 de outubro de 1885, casou-se em 25 de fevereiro de 1905, com Maria da Conceição de Sousa Ribeiro, e teve nove filhos.
Antônio Garcia elegeu-se prefeito pela primeira vez em Arari em 21 de setembro de 1921, obtendo 249 votos, segundo BATALHA (2014). Antes, já havia disputado uma eleição para o cargo de vereador, porém ficou na suplência nesse pleito. Após a sua eleição para prefeito, Garcia manteve-se no poder por trinta anos, governando o município por sete vezes, ora como prefeito eleito, ora como interventor municipal.
De acordo com FERNANDES (2008), Antonio Garcia conseguiu edificar em Arari uma bonita rampa de desembarque fluvial, um campo de aviação e um grande mercado público, que depois foi desativado por administrações posteriores. Fernandes diz ainda que Garcia “foi o primeiro a inaugurar luz elétrica nas ruas de Arari, nos anos de 1940. Por sua longa liderança política e permanência no poder por três décadas, Antônio Garcia foi uma inquestionável personalidade na política arariense no seu tempo (FERNANDES, 2014, p. 74).
JOSÉ JOAQUIM SEGUINS DE OLIVEIRA, BARÃO DE ITAPARY
O Barão de Itapary nasceu em São Luís no dia 17 de junho de 1858. Era filho do Comendador José Antonio de Oliveira, considerado o segundo administrador de Arari, de 1869 – 1873; e de Maria Isabel Seguins de Oliveira. Formou-se em Direito, em Portugal. Casou-se com Genoveva Hortência Bianchi Sales da Caldeira. O Barão faleceu em 22 de maio de 1929, na mesma cidade onde nasceu, São Luís-MA. Era conhecido como o “d’Artagnan do Mearim”. José Joaquim Seguins de Oliveira morou alguns anos no povoado Flecheiras, na Fazenda Nova Austrália, que herdara dos seus pais. Na mesma fazenda possuía o Engenho Babilônia, que à época fabricava um dos melhores açucares do Estado do Maranhão.
Segundo escreveu o escritor e acadêmico da Academia Maranhense de Letras, Joaquim Itapari, em artigo intitulado “A nobreza do barão”:
“Em 1886, faleceria o comendador e tenente-coronel José Antônio de Oliveira, então viúvo de Maria Isabel Seguins de Oliveira. No inventário do comendador, guardado nos Arquivos do Tribunal de Justiça do Maranhão, estão arrolados fazendas de gado, lavouras e engenhos de açúcar, em Coroatá (Fazenda Canaã), Arari e Viana, dentre estes a grande Fazenda Sumaúma e o Engenho Santa Isabel (Então, no 3º Distrito de Viana), com numerosa escravaria, deixados aos filhos Isabel Christina e José Joaquim. Tais bens, segundo o historiador Mílson Coutinho, “alcançavam a cifra astronômica de 400 contos de réis”.
Falecendo Isabel, José Joaquim Seguins de Oliveira tornou-se único proprietário dessa fortuna, além de centenas de escravos. Jovem ainda ele se embarcou para Portugal e lá se formou em Direito. De regresso ao Maranhão, casado na Ilha da Madeira com Genoveva Hortênsia Bianchi Salles Caldeira, o novo bacharel preferiu dedicar-se à administração das propriedades que herdara, no vale do Mearim e na Baixada.
No dizer de Mílson Coutinho, “Em 1886, quando ia intensa a campanha pela abolição da escravidão”,… o Dr. José Joaquim, espírito sensível às causas sociais, caráter impregnado de nobres ideais humanísticos, alforriou mais de 400 escravos das fazendas que herdara, muitos dos quais adicionaram ao nome de batismo os sobrenomes dos Seguins ou dos Oliveira, seguindo o costume da época.
Ainda segundo historiador, Milson Coutinho, “Esse gesto generoso valeu-lhe o título de Barão de Itapary, concedido a 12.5.1888 pela princesa regente, Isabel de Orleans.” Todavia, a demonstração da nobreza de caráter do futuro Barão de Itapary não se resumiria à libertação jurídica e incondicional dos seus escravos. Em 1929, poucos meses antes do seu falecimento em São Luís, ele diria aos filhos, reunidos em torno de si: É meu desejo que as terras do Engenho Santa Isabel fiquem para sempre com as famílias dos ex- escravos, que ali trabalhavam, e seus descendentes. Cumprindo esse desejo, os filhos não arrolaram no seu espólio cerca de 12.000 hectares de terras do antigo Engenho Santa Isabel, hoje no município de Matinha”.
O historiador arariense, João Francisco Batalha, em seu livro “Um passeio pela história do Arari”, p. 271, cita um trecho em que o também historiador, Dunshee de Abranches, narra o seu encontro com o Barão de Itapary:
“Montado em um soberbo alazão, ricamente ajaezado, com estribos e arreios de prata e trajado elegantemente com finas luvas de pelica, cabelos castanhos, cavanhaque cortado à francesa, rosto alvo, rosado e formoso, parecendo mesmo parecendo mesmo um dos heróis dos velhos romances de cavalaria” (DUNSHEE DE ABRANCHES apud BATALHA, 2014, p. 271).
REFERÊNCIAS
BATALHA, João Francisco. Um passeio pela história do Arari. 2ª edição. São Luís, 360º Gráfica e Editora, 2014.
COUTINHO, Milson. Biografia: Fidalgos e Barões - Uma história da nobiliarquia luso-brasileira.
ERICEIRA, Marise. Raízes de Arari. São Luís, Unigraf, 2012, p. 114.
FERNANDES, José. Gente e coisas da minha terra. São Luís, Lithograf, 2008, p. 73 e 74.
ITAPARI, Joaquim. A nobreza do Barão. Blog da Academia Maranhense de Letras. Disponível em: <http://www.academiamaranhense.org.br/blog/nobreza-do-barao/> . Acesso: 15. dez. 2018
Comments