O FENÔMENO DA PIRACEMA NOS CAMPOS ARARIENSES
- Adenildo Bezerra
- 20 de jan. de 2021
- 3 min de leitura

A piracema é um fenômeno que ocorre com diversas espécies de peixes ao redor do mundo, sendo uma importante estratégia reprodutiva. A palavra piracema vem do tupi e significa “subida do peixe”. O processo recebe esse nome, porque, todos os anos, algumas espécies de peixes nadam rio acima em busca de locais adequados para reprodução e alimentação. Assim, a piracema garante que o peixe complete seu ciclo de vida e dê continuidade à sua espécie.
Nos campos inundáveis que circundam Arari, por exemplo, a piracema ocorre tão logo caem as primeiras chuvas. Os campos começam a encher, cobrindo a vegetação, formada por gramíneas, (capim-de-marreca, canarana, capim-açu, junco, por exemplo), tornando-se um ambiente propício à desova dos peixes. Daí, as espécies deixam os rios que compõem a rede hidrográfica da região (Grajaú, Pindaré, Mearim) e sobem pelos igarapés até aos campos baixos, onde iniciam o processo de reprodução. Quando o fenômeno é interrompido de alguma forma, a reprodução é prejudicada, pois a interrupção interfere no desenvolvimento das gônadas (glândulas sexuais dos peixes), na maturação dos gametas e na desova.
Campos como o do Arari Açu, do Carmo, das Flecheiras, do Manoel João, do Cedro, do Curral da Igreja e o Lago da Morte, que é intermitente, só para citar alguns, são verdadeiros berçários de peixes nativos da nossa região. Algumas espécies da região: curimatá, peixes-pretos (traíra, jeju, carambanja), tamatá, piranha etc. A piracema é um fenômeno épico para os peixes, pois enfrentam as marés, os predadores naturais (aves piscívoras) e a predação antrópica, a mais prejudicial. O homem interfere no fenômeno quando constrói tapagens ou barragens nos igarapés ou cercam esses cursos d’água com redes, sobretudo redes de malha pequena.
De Acordo com SANTOS, durante o percurso rio acima, uma série de alterações hormonais são desencadeadas, preparando o animal para a reprodução. Fatores ambientais, como chuva e temperatura, estão relacionados com a produção de hormônios.
No momento da fecundação, que ocorre externamente em peixes migratórios, a fêmea lança óvulos na água para que os machos os fertilizem. Após a fecundação, a correnteza leva os ovos, os quais podem atingir águas mais calmas, que garantem o desenvolvimento do alevino. Vale destacar que os ovos podem sofrer com predadores e condições ambientais desfavoráveis, fazendo com que muitos deles não atinjam a fase adulta.
Como se sabe, piracema ocorre nos períodos de chuva, épocas em que se observa uma maior abundância de alimentos, o que é fundamental para os peixes em migração. Além disso, com o acúmulo de detritos nos rios e igarapés, a visibilidade na água é reduzida, o que ajuda os peixes a protegerem-se de predadores. Em nossa região, o período da piracema se inicia em dezembro e vai até o final do mês de março.
Durante o fenômeno da piracema, a pesca fica proibida (período de defeso), uma vez que os grandes cardumes se encontram no seu período de reprodução. A captura de grande quantidade desses peixes nessa época pode ocasionar uma diminuição da população de uma determinada espécie, prejudicando, assim, o meio ambiente e todos que retiram do peixe o seu sustento. A fauna, obviamente, também é afetada, pois aves como o socó, a jaçanã, a garça, o gueguél, dentre outras, procuram os campos inundáveis para se alimentarem durante o período chuvoso.
Diante do que foi exposto, é de suma importância que o homem respeite a piracema. É necessário que os órgãos de fiscalização e de proteção ambiental, como o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – e as secretárias estaduais e municipais estejam atentos para combater a pesca predatória durante o período do defeso. Em Arari, além da Colônia de Pescadores Z 36, existem outras associações de pescadores, que precisam fazer atividades de sensibilização ambiental junto aos seus membros, a fim de conscientizá-los da importância do respeito à piracema.
FONTES PESQUISADAS
PINHEIRO, Claudio Urbano et al. Plantas Úteis do Maranhão. São Luís, Ed Aquarela, 2010.
SANTOS, Vanessa Sardinha dos. "Piracema"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/piracema.htm. Acesso em 20 de janeiro de 2021.
SOARES, Éden do Carmo. Peixes do Mearim. São Luís, Geia, 2005.
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